A Deep Web, como já relatamos em nosso especial sobre o assunto,
tem de tudo, incluindo o submundo do crime organizado. O tráfico de
drogas é algo muito presente na rede oculta e toda a operação se
personifica na figura de um homem desconhecido: Dread Pirate Roberts.
Este,
obviamente, não é seu nome verdadeiro e foi escolhido baseado no
personagem do livro "The Princess Bride" ("A Princesa Prometida" no
Brasil), cuja personalidade é passada de uma geração de piratas para
outra. Ele é o responsável pela maior rede de comércio ilegal da web
profunda, o site Silk Road ("Rota da Seda", em português) e foi
contatado pela Forbes, que fez uma extensa entrevista sobre os negócios do site e seu perfil.
Roberts,
que não é o primeiro administrador da rede e a comprou de seu antigo
dono, se esconde por meio da rede Tor, que garante seu anonimato e dos
usuários de sua rede. E, utilizando as Bitcoins, conseguiu construir boa
parte de sua fortuna e não vê problemas em seu ramo de atuação.
“Sou
orgulhoso do que faço”, afirma ele que ressalta que as drogas trazem,
sim, problemas de saúde. “Esta não é a questão. As pessoas são donas de
si mesmas e de seus corpos e é seu direito usar o que quiserem. Não é
função minha, do governo, ou de mais ninguém decidir o que uma pessoa
pode fazer com seu corpo”, afirma.
Roberts se caracteriza como um
libertário, favorável às liberdades individuais, independente do que
esta liberdade possa fazer com a pessoa. Desta forma, a Silk Road, que
funciona como um eBay para drogas, impõe algumas diretrizes aos seus
usuários.
“Não permitimos a venda de nada que possa causar danos a
pessoas inocentes, ou que tenha sido necessário lesar inocentes para
obter e vender. Por exemplo, não é permitido a venda de produtos
roubados, dinheiro falso, assassinos de aluguel ou pornografia
infantil”, afirma o chefão da Silk Road, que diz que o site nada mais é
do que um veículo para uma mensagem maior.
“O que fazemos não é
só sobre vender drogas ou ‘enfrentar o sistema’. É sobre levantar-se por
nossos direitos como seres humanos e recusar-se a aceitar isso quando
não fizemos nada de errado. A Silk Road é um veículo para esta mensagem.
Todo o resto é secundário”, afirma.
Mesmo assim, Roberts sabe
que seu site é ilegal. E como em todos os lugares, onde há mercados
negros, analógicos ou digitais, há violência. No caso da Silk Road, como
é virtualmente impossível identificar seus donos e operadores, os
ataques são virtuais. Mais de uma vez o site já teve de sair do ar por
causa de hackers. Talvez da concorrência? Roberts não confirma.
O
fato é que o “pirata” só saiu das sombras para dar a entrevista à
Forbes porque a competição pelo mercado de drogas da Deep Web tem
aumentado. Recentemente, a Atlantis, principal concorrente, que se
aproveitou bastante do período em baixa da Silk Road, realizou esforços
para atingir o público da superfície da internet. A página até mesmo
lançou um vídeo publicitário no YouTube, com direito a musiquinha
engraçadinha, para convidar usuários a se aventurarem na Deep Web para
realizar suas compras. Outro serviço que tem crescido é o Black Market
Reloaded, também usando o modelo de negócios da Silk Road.
Mesmo
assim, Roberts não teme a concorrência, que considera saudável para a
“indústria”, e acredita que mais rivais o manterão sempre motivado em
seu negócio.
Como não poderia deixar de ser, Dread Pirate Roberts
recebe muito dinheiro com seu negócio, já que a Silk Road recebe 10% de
comissão a cada venda. Contudo, ele evita gastar muito para se manter
longe das atenções das autoridades. “Não gasto além do que eu poderia
justificar, o que muitas pessoas consideraria pouco. Cuidar da Silk Road
é muito mais atraente do que qualquer atividade de lazer, então eu não
preciso de muito para viver feliz”, ele conta.
“Eu não venderia a
Silk Road por um valor menor do que 10 dígitos, talvez até 11 dígitos.
Se alguém pagaria isso é outra história, mas em algum momento vocês
precisarão incluir o Dread Pirate Roberts no ranking das pessoas mais
ricas da Forbes”, provoca o traficante, em contato com o repórter Andy
Greenberg, da Forbes.
O Farejatech não faz apologia ao uso de drogas.